Um aguardado relatório de inflação referente ao mês de março nos Estados Unidos será divulgado hoje, com analistas prevendo uma desaceleração — em parte devido à queda nos preços da energia, o que trouxe certo alívio aos consumidores.

Segundo as projeções de economistas, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) deve subir apenas 0,1% em março em relação a fevereiro, representando o menor aumento mensal em oito meses. Já o núcleo do CPI — que exclui categorias voláteis como alimentos e energia — deve registrar um avanço mais sólido de 0,3%. Ainda assim, ambos os indicadores devem mostrar uma desaceleração na comparação anual.

A Reserva Federal está observando atentamente esses números para definir a trajetória futura das taxas de juros. Uma leitura mais persistente do núcleo da inflação pode levar o Fed a manter sua postura hawkish, sinalizando que as taxas podem permanecer elevadas nos próximos meses. Por outro lado, uma queda significativa tanto na inflação básica quanto na nominal poderia abrir espaço para uma maior flexibilização da política monetária — mesmo diante da ameaça de uma guerra comercial.

A reação do mercado ao relatório de inflação provavelmente será expressiva. Números acima do esperado podem provocar quedas nas bolsas e um aumento nos rendimentos dos títulos, à medida que os investidores antecipam uma política monetária mais agressiva. Esse cenário também tende a fortalecer o dólar americano. Já uma leitura abaixo das expectativas pode gerar o efeito oposto.

Vale lembrar que, ontem, o presidente Donald Trump anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas para todos os países, com exceção da China. No caso chinês, as tarifas foram elevadas para 125%, após Pequim implementar medidas retaliatórias.

Considerando que cerca de 20% das importações de vestuário vêm da China, a pressão sobre os preços causada pelas tarifas anunciadas em fevereiro pode começar a aparecer nos dados de março. Além disso, alguns consumidores podem ter se antecipado e realizado compras — como veículos — prevendo aumentos futuros, o que poderia ter pressionado os preços para cima.

No entanto, muitos economistas alertam que o repasse das tarifas aos consumidores pode levar mais tempo, com base na experiência do primeiro mandato de Trump. Os preços de bens excluindo alimentos, energia e transporte devem subir nos próximos seis meses, o que pode reverter a tendência de desinflação que contribuiu para a queda da inflação no ano passado.

"Com base no efeito observado durante o episódio tarifário de 2018-2019, esperamos que os aumentos de tarifas em fevereiro e março tenham seu maior impacto nas variações mensais do CPI entre maio e agosto", afirmaram analistas do UBS. O BNP Paribas compartilha dessa visão.

Com a desaceleração no crescimento dos salários, os analistas projetam apenas pequenas variações em várias categorias de serviços no relatório de março. "Dado o declínio acentuado no sentimento do consumidor, não se pode descartar que a inflação mais branda registrada em fevereiro para passagens aéreas e hotéis reflita uma piora nas expectativas desses setores", afirmou o BNP Paribas em nota.

De qualquer forma, o mercado cambial pode apresentar forte volatilidade, caso os dados se afastem significativamente das projeções dos economistas.